Relatora da ONU em Gaza pede que países cortem laços com Israel

Francesca Albanese disse ser impossível dissociar a economia da político

A relatora especial da ONU para os Territórios Palestinos Ocupados, Francesca Albanese, defendeu nesta terça-feira, 15, durante conferência ministerial do Grupo de Haia na Colômbia, a adoção de medidas concretas por Estados para pressionar Israel e encerrar o que classificou como “campanha genocida” na Faixa de Gaza.

Segundo ela, “o direito internacional foi tratado como opcional por tempo demais” e chegou-se a um ponto em que “o silêncio” de muitos governos equivale à “conivência com crimes de guerra e contra a humanidade”.

Em seu discurso de abertura, Albanese afirmou que “a campanha genocida em Gaza e a limpeza étnica no restante do território palestino ocupado continuam”, apesar das medidas provisórias ordenadas pela Corte Internacional de Justiça (CIJ). “A ordem da CIJ para prevenir atos genocidas e preservar evidências permanece não cumprida”, alertou.

Ela também mencionou o parecer da CIJ que classificou a ocupação israelense como “ilegal” e como forma de “segregação racial e apartheid”, além da resolução da Assembleia-Geral da ONU que fixou o prazo de 17 de setembro de 2025 para a retirada de Israel.

A relatora pediu que os países membros do Grupo de Haia adotem “uma ou duas ações concretas” como ponto de partida e sugere, entre elas, o embargo de armas, o envio de navios com ajuda humanitária a Gaza e o rompimento de laços diplomáticos, militares e econômicos com Israel.

“O embargo de armas não é caridade, nem solidariedade: é uma obrigação internacional”, afirmou a jurista e professora italiana. “A economia da ocupação foi transformada em uma economia do genocídio.”

Durante a coletiva de imprensa, Albanese criticou a ausência de sanções por parte da União Europeia e o fortalecimento de laços comerciais com Israel. “O acordo da UE com Israel foi uma vergonha desde sua assinatura”, afirmou. “A renovação diante da destruição de Gaza marca o ponto mais baixo da política externa europeia.”

Questionada sobre a viabilidade de alterar medidas comerciais, a relatora antecipou que esse será o foco de seu próximo relatório à Assembleia-Geral da ONU, previsto para novembro. “Países que mantêm acordos de livre-comércio com Israel devem encerrá-los, não há espaço para ajustes”, afirmou. “Essas medidas devem ser impostas pela gravidade da situação.”

Relatora da ONU critica os EUA

Em resposta a outro repórter, Albanese afirmou que o apoio norte-americano ao governo israelense torna os EUA “totalmente cúmplices” do que ocorre em Gaza. “Além de fornecer armas, os EUA oferecem apoio político e intimidam quem tenta frear os crimes”, disse. “A intimidação em estilo mafioso é uma marca da política externa atual.”

A relatora disse também que os países do Sul Global, que ela prefere chamar de “maioria global”, têm um papel crucial neste momento. Destacou como histórico o processo estabelecido pela África do Sul contra Israel na CIJ e incentivou outros Estados a aderirem à iniciativa.

“O sistema internacional está se quebrando e nunca sairemos deste genocídio da mesma forma que entramos nele”, declarou a jurista. “Se não construirmos algo melhor, o futuro será muito mais sombrio.”

Por fim, Albanese reforçou que o compromisso dos Estados com o direito internacional deve prevalecer sobre interesses regionais. “As políticas regionais não substituem as obrigações internacionais, Estados têm o dever de prevenir genocídio e assegurar o respeito ao direito humanitário”, encerrou.

Crédito Revista Oeste

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