Jornalista grava vídeo para explicar método de investigação e porque diminuiu o ritmo de revelações na imprensa
Um mês depois de revelar que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) usou métodos fora dos padrões legais para investigar e tentar punir políticos e veículos de imprensa, entre eles, a Revista Oeste, o jornalista Glenn Greenwald publicou vídeo no YouTube para dizer que sofre ameaças, mas que não vai parar com as reportagens.
Em material de quase 30 minutos veiculado na última quinta-feira, 19, o norte-americano explica que tem sido pressionado a revelar todo o conteúdo a que teve acesso sobre o trabalho do TSE, então presidido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Glenn esclareceu, contudo, que se a questão fosse revelar todo o material, a própria fonte o teria feito. “A fonte procurou um jornalista não para despejar tudo na internet, mas, sim, para fazer jornalismo com este arquivo”.
Pressa ajudaria Alexandre de Moraes, adverte jornalista
O repórter explicou que se publicasse todo o material recebido, não ajudaria ninguém, exceto Alexandre de Moraes e o gabinete à época por ele chefiado. “Ninguém iria entender nada se eu jogasse todo esse arquivo na internet.”
Glenn explicou que, para organizar todas as informações contidas nos mais de 6 gigabytes de mensagens, é preciso ver, escutar e identificar o que é relevante. “Muitas vezes precisamos conectar as informações com outros dados e contextos para checar realmente a veracidade”.
No vídeo, ele destaca a importância de uma apuração detalhada para evitar erros e não gerar desconfiança. “A falta de credibilidade somente ajudaria os sujeitos envolvidos.”
Apuração deve descartar especulações
Um dos responsáveis pela divulgação dos documentos que resultaram na chamada “Vaza Jato”, Glenn disse que grande parte do material adquirido em reportagens como essa não tem relevância. “A maior parte não tem qualquer importância relacionada ao fato principal.”
Na opinião de Glenn, publicar todas as informações pode causar danos colaterais desnecessários. “Um profissional ético não pode simplesmente divulgar especulações sob o risco de destruir a reputação das pessoas.”
Glenn citou o exemplo da Vaza Jato, em que recebeu áudios de telefonemas do então procurador da República Deltan Dallagnol. “Ouvi coisas importantes sobre os trâmites na Justiça, mas havia ali, também, assuntos pessoais que o público não tem direito de saber.”
“Jornalista que é jornalista não se sente intimidado“
O repórter afirmou que, embora esteja sendo cobrado por novas reportagens, a investigação atual apresenta um volume de artigos superior ao de denúncias como a da Vaza Jato ou do caso Edward Snowden, com a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos.
Acrescentou que o público não precisa se preocupar com eventuais pressões. “Estou sendo pressionado pelo ministro há muito tempo”, disse. “Eu e os veículos de imprensa. Mas jornalista que se sente intimidado não é jornalista.”
Na visão do repórter norte-americano, é compreensível a falta de paciência das pessoas. “Isso aqui não é como o Burger King, em que você entra, pede um sanduíche e pronto.” Glenn explica que muita coisa só pode ser realmente entendida na base da investigação.
Sobre Moraes: “Jamais esconderia o que ele fez”
“O pior a se fazer neste momento é publicar algo sem termos certeza. O material só será publicado quando realmente estiver pronto”, disse o jornalista, garantindo que, em breve, novos artigos serão publicados. “Tem muita gente competente trabalhando nisso”.
Glenn revela que o material em análise é tão extenso que ele e sua equipe vão convidar jornalistas de outros veículos para conhecerem o teor dos arquivos. “É importante abrir esses arquivos para outros jornalistas, outros sites, para ter a certeza de que não estamos deixando nada de lado.”
O repórter afirma ter muito claro o perigo que Alexandre de Moraes representa. “Jamais pararia essa série de reportagens sem ela estar completa”, afirmou. “Eu jamais esconderia o que ele fez e o que o público tem direito de saber. As reportagens vão continuar.”