O petista também criticou “intervenções estrangeiras”, que, segundo o presidente, “podem causar danos maiores do que se pretende evitar”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a criação de uma “zona de paz” na América Latina e no Caribe contra o que chamou de “crescente polarização e instabilidade”. O petista deu a declaração durante cerimônia em que recebeu embaixadores nesta segunda-feira, 20, no Palácio do Itamaraty.
Na ocasião, Lula também criticou “intervenções estrangeiras” na região. A fala tem sido interpretada como uma referência às ações dos Estados Unidos contra o regime venezuelano e o avanço do narcoterrorismo.
A fala do petista ocorre dias depois da primeira reunião entre o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sobre as restrições impostas a autoridades brasileiras por violações de direitos humanos.
“O que nós queremos é mostrar ao mundo que queremos fortalecer o multilateralismo, que é baseado na boa relação cordial, comercial, econômica, e, sobretudo, uma relação pacífica”, afirmou o petista. “Sem ódio, sem negacionismo e sem ferir o princípio básico da democracia e dos direitos humanos. Sejam bem-vindos ao Brasil.”
“Na América Latina e Caribe também vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade”, continuou Lula. “Manter a região como zona de paz é nossa prioridade.”
Sem citar atrocidades cometidas por ditadores amigos, como Nicolás Maduro, na Venezuela, Daniel Ortega, na Nicarágua, e a família Castro, em Cuba, Lula afirmou que “somos um continente livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos ou religiosos”.
Para o petista, “intervenções estrangeiras podem causar danos maiores do que se pretende evitar.”
Acuado, Lula sobe o tom com os EUA
No fim de semana, Lula subiu o tom ao se referir ao governo dos EUA. Ao participar de um evento de anúncio de um novo edital da Rede Nacional de Cursinhos Populares, no sábado 18, o presidente afirmou que espera “que nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil”.
No discurso, Lula revelou que pretende “formar uma doutrina latino-americana, com professor latino-americano, com estudante latino-americano, para que a gente possa sonhar que esse continente um dia vai ser independente”.
“Nunca mais um presidente de outro país ouse falar grosso com o Brasil, porque a gente não vai aceitar”, continuou o petista.
Na semana passada viralizou a divulgação de uma denúncia feita por Hugo “El Pollo” Carvajal, ex-diretor de inteligência militar da Venezuela, sobre o suposto financiamento de líderes de esquerda pelo regime chavista. Carvajal está preso nos EUA e aceitou colaborar com as investigações do Ministério Público norte-americano.
De acordo com o portal espanhol The Objective, ele admitiu ter participado do chamado Cartel de los Soles, organização de narcotráfico ligada a militares venezuelanos, e afirmou que o governo de Hugo Chávez teria usado a estatal petrolífera PDVSA para financiar ilegalmente partidos de esquerda no exterior.
Entre os nomes citados pelo ex-general como supostos beneficiários estão Lula; Néstor Kirchner, da Argentina; Evo Morales, da Bolívia; Fernando Lugo, do Paraguai; Ollanta Humala, do Peru; Mel Zelaya, de Honduras; e Gustavo Petro, da Colômbia, além dos partidos Movimento Cinco Estrelas (Itália) e Podemos (Espanha).