O empresário turco naturalizado brasileiro Mustafa Goktepe, 47, foi preso na manhã desta quarta-feira (30) pela Polícia Federal em cumprimento a pedido de extradição do governo da Turquia. Ele foi preso de forma cautelar e o STF irá examinar o pedido de extradição.
Goktepe, que mora no Brasil há 20 anos, é dono de uma cadeia de restaurantes turcos e coordena duas escolas. Ele é membro do movimento Hizmet, organização ligada ao clérigo muçulmano Fethullah Gülen, morto em 2024 no exílio nos EUA. Gulen era um ex-aliado que virou desafeto do presidente Recep Tayyip Erdogan.
É importante ressaltar que o movimento Hizmet é considerado terrorista exclusivamente pelo governo turco, designação não reconhecida por organizações internacionais como a ONU ou pela maioria dos países democráticos. A perseguição política na Turquia resultou na demissão de mais de 100 mil funcionários públicos e na prisão de dezenas de milhares de pessoas após a tentativa de golpe de 2016, em uma ampla repressão a opositores.
O governo da Turquia acusa o Hizmet de ter se envolvido na tentativa de golpe contra Erdogan em 2016.
Goktepe é acusado pelo governo turco de fazer parte de uma “organização terrorista”. Ele é casado com uma brasileira e tem duas filhas, de 8 e 13 anos, nascidas no Brasil. Ele foi naturalizado brasileiro em 2012.
“Além de ser brasileiro naturalizado, casado com uma brasileira, e de ter duas filhas brasileiras, Mustafa é uma liderança na defesa da tolerância política e religiosa e na defesa da democracia. O pedido do governo turco é mais um triste episódio de perseguição por opinião política”, afirma o advogado Beto Vasconcelos, que atua na defesa de Goktepe.
“O movimento político do qual se alega que Mustafa faz parte é pacifista e político, reconhecido como legítimo por todos os países do mundo e pela ONU”, prosseguiu.
“Nós estamos tomando providências para um pedido de revogação da prisão com a confiança de que o STF, assim que tiver a conhecimento dos fatos pela defesa, o fará.”
Trata-se do terceiro pedido de extradição do governo turco contra membros do movimento Hizmet no Brasil. Os dois outros foram indeferidos pelo STF.
A ordem de prisão cautelar veio do ministro do STF Flávio Dino.
Em 2019, o governo turco pediu a extradição do turco naturalizado brasileiro Ali Sipahi, também do movimento Hizmet e sócio de Mustafá em restaurantes. Ele foi preso de forma preventiva, mas teve seu pedido de extradição indeferido pelo STF por unanimidade.
Em 2022, o STF negou pedido de extradição de outro membro do Hizmet, o empresário Yakup Sagar, também acusado de terrorismo pelo governo turco.
O presidente culpa os seguidores de Gülen pela tentativa frustrada de golpe que deixou 250 mortos e 2.000 feridos. O clérigo, que ficou exilado nos EUA entre 1999 e 2024, ano de sua morte, negava qualquer participação.
Crédito Folha