Foto - Ton Molina
Saída de Arthur Lira da presidência da Câmara movimenta grupos de diversos partidos e novos blocos são articulados no Centrão.
Além de um novo presidente da Câmara, a disputa pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) deve impactar nas composições do Centrão a partir do ano que vem. Essa reorganização terá impacto nas alianças dos chamados blocos partidários e vai refletir nas distribuições dos cargos da Mesa Diretora e das comissões da Casa.
A tendência atual é que Lira e seu possível candidato a sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB) se aproximem do PL de Jair Bolsonaro. Enquanto isso, outros dois deputados do Centrão que são nomes fortes na disputa, Elmar Nascimento (União-BA) e Antônio Brito (PSD-BA), barganham o apoio do governo.
Ainda em 2023, quando se reelegeu presidente da Câmara, Arthur Lira criou o chamado “superbloco” composto por 175 deputados dos partidos PP, União Brasil, PDT, PSB, Solidariedade, Avante, Patriota e pela federação Cidadania-PSDB.
Essa aliança foi uma reação do grupo do presidente da Câmara à formação de outro conjunto de partidos – composto por MDB, PSD, Republicanos, Podemos e PSC e que tem 142 integrantes e liderado por Antônio Brito (PSD-BA). À época, o “superbloco” de Lira teve a prioridade para indicações para as comissões da Câmara, inclusive para as comissões mistas que analisam medidas provisórias. Isso foi visto como uma demonstração de força do presidente da Câmara.
As comissões são grupos restritos de deputados divididos em equipes temáticas que fazem uma análise prévia de projetos de lei para decidir se serão submetidos a votação em plenário. É o caso, por exemplo, da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), vista como a mais importante da Casa, pois ela tem a capacidade de discutir a constitucionalidade das propostas de lei e, com isso, arquivar ou deliberar sobre os projetos apresentados pelos parlamentares. Por isso, os partidos disputam sua presidência.
No acordo que elegeu Lira em 2023, ficou acertado que o PT, do presidente Lula, comandaria a CCJ naquele ano. Já em 2024, o PL, de Jair Bolsonaro, foi o responsável por fazer a indicação.
Agora, no entanto, a expectativa é de que haja uma recomposição dessas alianças a partir da eleição para a presidência da Câmara. Atualmente, o bloco criado por Lira é liderado pelo deputado Elmar Nascimento (União-BA), que era visto como favorito para ser o candidato do grupo, mas que foi preterido na escolha do atual presidente e pode estar se voltando contra ele.
A avaliação de líderes do “superbloco” é de que o racha do Centrão partiu do próprio Lira, quando ele optou apoiar por um nome de fora do seu grupo para sua sucessão. Ao invés de Elmar Nascimento, o presidente da Câmara articulou junto ao Republicanos para apoiar a candidatura de Hugo Motta (PB).
A candidatura de Motta foi construída depois que Marcos Pereira (Republicanos-SP) renunciou à disputa. Ela buscava espaço dentro do seu bloco, que também tem a candidatura de Antônio Brito (PSD-BA).
“O presidente Arthur Lira traiu o deputado Elmar. Ele traiu o deputado, nosso líder Elmar, não tem ninguém mais descontente com Arthur Lira do que nós”, afirmou Alexandre Leite (União-SP).
PL pode ser atraído para o bloco de Lira
Na expectativa de eleger o seu sucessor e, com isso manter a influência na Câmara, Arthur Lira articula para atrair o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro para o seu bloco. A sigla conta com 92 deputados e já sinalizou que deve apoiar o nome de Hugo Motta na disputa.
Nesse rearranjo, o MDB, com 44 deputados, também pode ser atraído para a composição com Motta. O deputado Republicanos já foi filiado à sigla e conta com a simpatia de uma ala dos emedebistas.
No começo deste mês, o candidato apoiado por Lira reuniu líderes para um almoço de aniversário e, embora reconheça que o encontro não foi realizado para colher o apoio oficial, Motta disse a interlocutores que os convidados são aqueles que “já estão embarcando no projeto”. Estiveram no local Altineu Côrtes (PL-RJ), Doutor Luizinho (PP-RJ), Isnaldo Bulhões (MDB-AL), além de representantes de Podemos, PV e PCdoB.
Líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), chegou a indicar que levaria o nome de Motta para ser discutido na bancada petista. A federação PT-PCdoB e PV reúne 80 deputados, mas ainda não há sinais concretos de que Motta receba apoio de governistas.
“Não cabe debater a questão governo versus oposição, mas tão somente garantir a escolha de um nome que assegure o funcionamento harmônico e independente do Poder Legislativo. Quanto menos disputas secundárias, melhor será para os interesses do Brasil”, disse Cunha.
Apesar disso, uma eventual composição com o grupo de Lira e que envolva o PL é vista como resistência por parte dos petistas. A avaliação é de que a composição pode acabar impactando nos postos e cargos que o partido de Bolsonaro vai ocupar na Câmara a partir do ano que vem.
Brito e Elmar vão oferecer bloco “mais governista” ao Planalto
Do outro lado do balcão, Elmar Nascimento e Antônio Brito pretendem oferecer a promessa da criação de um novo bloco com maioria governista. Oficialmente, o presidente Lula tem sinalizado que não vai se envolver na disputa, mas tem recebido todos os postulantes ao cargo de Lira.
Lula esteve com Motta e Elmar Nascimento na semana passada, e se reuniu com Antônio Brito nesta segunda-feira (16). Os adversários de Motta sinalizam aos aliados do Planalto que ele seria um candidato de Bolsonaro e apadrinhado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), opositor ao governo.
Paralelamente, Elmar e Brito ensaiam uma aliança com partidos que fazem parte da base governista, como PDT e PSB. Ambos estavam no “superbloco” de Lira e já indicam que vão seguir a indicação de Elmar Nascimento na disputa pela presidência da Câmara.
“Temos um compromisso feito com o Elmar e a gente não volta atrás em compromisso. A composição deve ser fechada na primeira ou na segunda quinzena de outubro”, explicou o ministro da Previdência, Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT.
A expectativa é de que essa reorganização seja capitaneada pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, logo após as eleições municipais. Ele pretende buscar MDB, Solidariedade, Avante e PRD, que juntos do PDT, PSB, União Brasil e do próprio PSD somariam mais de 330 votos na Câmara.
Ao governo tem sido oferecido uma composição que poderia dar mais tranquilidade para Lula na Câmara dos Deputados pelos próximos dois anos. Os aliados de Lula, no entanto, acompanham com ceticismo a capacidade de Brito e Elmar conseguirem maioria pelas suas candidaturas.
O acordo prevê que ambos vão se manter na corrida por enquanto. Entretanto, nos próximos meses, somente o nome que mais angariar apoios se manterá na disputa. A eleição vai ocorrer em fevereiro de 2025 e o voto dos deputados é secreto.
“O União Brasil foi chamado pelo presidente Lula, antes mesmo de sua posse, para integrar a coalizão de apoio do governo e temos feito o nosso papel”, acenou Elmar Nascimento ao Palácio do Planalto.
Publicamente, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o presidente Lula não vai se envolver na disputa. “[O presidente Lula] afirmou que os três pré-candidatos, todos eles têm o apreço por parte do governo. Ele colocou que não ia opinar sobre um ou outro candidato. Essa foi uma novidade importante que ele colocou, a despeito das narrativas e versões que são criadas e constituídas sobre esse ou aquele candidato”, minimizou o líder governista.