Tarcísio e Lula trocam farpas durante visita à favela do Moinho

Favela do Moinho é palco de disputa política que antecipa eleições 2026 desde operação que esvaziou cracolândia.

Um mês após o acordo firmado entre o governo federal e a gestão do estado de São Paulo para atendimento habitacional na favela do Moinho, o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o presidente Lula (PT) trocaram farpas durante o anúncio de investimentos e a entrega de casas, nesta quinta-feira (26). O petista visitou a comunidade no centro da capital paulista, onde anunciou o subsídio de R$ 250 mil por família sem a presença de Tarcísio. Este fazia, no mesmo horário, entrega de casas em São Bernardo do Campo, reduto eleitoral de Lula.

O programa habitacional para atender cerca de 900 famílias na favela do Moinho foi firmado em maio em uma parceria entre o governo federal e o estado de São Paulo. Além da confirmação das famílias com direito às novas moradias, Lula assinou o decreto que inicia o processo de cessão do terreno federal para o governo de São Paulo para construção do Parque Moinho, projeto da gestão Tarcísio de Freitas.

A favela do Moinho foi alvo da operação do governo estadual em parceria com a prefeitura de São Paulo que esvaziou a cracolândia, por meio de ações coordenadas entre assistência social, saúde e segurança pública. O vice-prefeito paulistano, Ricardo Mello Araújo (PL), afirma que o crime organizado abastecia a cracolândia com drogas a partir da favela na região central.

Apesar do acordo com o governo de São Paulo, Lula criticou o projeto de construção do parque pela gestão Tarcísio, que não participou do evento ao lado do presidente. “Por mais que seja bonito um parque, ele não pode ser feito às custas do sofrimento de um ser humano. É importante que as pessoas que querem visitar, brincar e passar o domingo nesse parque não venham pisotear sangue de pobres que aqui foram agredidos”, atacou o petista.

“Tem gente que gosta de falar, eu gosto de fazer”, rebate Tarcísio de Freitas

Durante a visita em terras paulistas, Lula mostrou desconfiança sobre a transferência do terreno para a construção do Parque do Moinho e prometeu “cuidar” dos moradores da comunidade paulistana. “Quando estiver tudo pronto, a casa que vocês vão comprar, o aluguel que vocês vão pagar, antes do apartamento de vocês saírem, aí a gente faz a cessão definitiva para o governo do estado”, cutucou. “Agora, vocês estão sob os cuidados do governo federal e nós vamos respeitar vocês”, completou Lula.

O governador de São Paulo rebateu as provocações do petista durante a entrega de casas no ABC paulista. Tarcísio disse que o objetivo do governo paulista não é fazer eventos e que a gestão solucionou o impasse habitacional na favela do Moinho, apesar da resistência do governo federal.

“Tem muita gente que gosta de falar, a gente gosta de fazer. Entre falar e fazer, a gente ficou com a segunda opção. A gente ficou com a entrega, com a realização de um sonho. A política habitacional do estado de São Paulo é uma política com entrega real”, discursou Tarcísio.

O governador de São Paulo ainda falou que não está preocupado com o próximo discurso, em referência a Lula, sem citar o nome do presidente. “Estamos preocupados com o próximo condomínio, com as próximas famílias que vão realizar o sonho da casa própria”, emendou.

Segundo informações do governo paulista, das 854 famílias que ocupam a área, 757 aderiram ao plano estadual até o mês de maio, o que representa quase 90% dos moradores da comunidade. Deste total, 609 famílias estão habilitadas para o reassentamento com assinaturas de contratos após a definição das novas moradias.

A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano planeja requalificar a área da favela do Moinho, nos Campos Elíseos, para implantação do Parque do Moinho, ao longo do trajeto de intervenção, como forma de devolver o espaço público para a cidade e impedir novas ocupações.

Cracolândia e habitação na favela do Moinho antecipam embate entre direita e esquerda

segurança pública é a maior preocupação do brasileiro, conforme levantamento da Quaest, divulgado no início de maio, e deve pautar o debate eleitoral na corrida presidencial de 2026. Além da violência e do crime organizado, o eleitorado brasileiro elenca a economia e as questões sociais entre os principais problemas do país.

O governador Tarcísio de Freitas é visto como uma das principais alternativas para disputar a Presidência da República em oposição à tentativa de reeleição de Lula, caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não consiga reverter a inelegibilidade na Justiça Eleitoral.

A favela do Moinho se tornou um palco do antagonismo entre as políticas de direita e de esquerda. Além da questão habitacional, as ações do PT enquanto esteve à frente da prefeitura paulistana foram criticadas pelas gestões estadual e municipal, pelos anos em que não houve combate ao uso de drogas na cracolândia.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública estadual, mais de 600 quilos de entorpecentes foram apreendidos na região central da capital no primeiro trimestre, naquele que é considerado um processo de asfixiamento do tráfico de drogas, que colaborou com o esvaziamento da cracolândia. “As forças de segurança têm atuado de forma integrada, buscando atacar o ecossistema do crime organizado na região”, disse a pasta.

Em entrevista ao programa Entrelinhas da Gazeta do Povo no final de maio, o vice-prefeito Mello Araújo revelou que houve atritos com o governo Lula para conclusão do processo de desocupação da favela do Moinho. “O governo federal criou empecilhos, não queria autorizar a demolição. Com muita insistência, e percebendo que sairiam perdendo, acabaram concordando, mas depois que já tinha começado a demolição. Foi com muita insistência, não de forma tranquila. Eu participei de algumas reuniões e sei da dificuldade. O governo de São Paulo foi corajoso em quebrar um paradigma”, comentou ele na ocasião.

Crédito Gazeta do Povo

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