Críticas públicas a oficiais no Curso de Comando do Exército geram polêmica. Veja como isso pode impactar a moral militar no Brasil.
O Curso Preparatório para o Comando (CPCOM) do Exército Brasileiro, realizado em outubro de 2024, reuniu mais de 300 oficiais em Brasília com o objetivo de preparar futuros comandantes da força. Contudo, o evento, que deveria ser uma oportunidade de fortalecer a liderança militar, acabou gerando controvérsias. Sob a supervisão direta do Comandante do Exército, General Tomás Miguel Ribeiro Paiva, os participantes foram submetidos a regras rígidas, como a assinatura de termos de confidencialidade e a proibição do uso de celulares durante as atividades.
Essas medidas levantaram questões sobre o clima nas Forças Armadas e, principalmente, sobre a condução da liderança militar no Brasil. O que chamou ainda mais atenção foi a atitude do General Paiva ao criticar publicamente três oficiais superiores: o Coronel Correia Neto, o Tenente-Coronel CID e o Major De Oliveira. Os oficiais foram acusados de falta de ética em frente a seus colegas, um ato que dividiu opiniões e acendeu um debate sobre a forma como a disciplina militar está sendo tratada.
Críticas públicas ou perseguição política?
O episódio gerou interpretações diferentes dentro do Exército. Para alguns, a postura do General Paiva foi necessária para manter a disciplina e a integridade da instituição. Contudo, para outros, especialmente aqueles alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro, a ação foi vista como uma clara perseguição política, utilizando a disciplina como pretexto para punir desafetos do governo anterior.
Esse cenário traz à tona um dilema delicado: até que ponto a crítica pública no ambiente militar é saudável para a manutenção da ordem? Embora a disciplina seja um pilar fundamental nas Forças Armadas, o temor de exposição e críticas abertas pode gerar insegurança e desestabilizar a confiança entre os oficiais. Isso pode comprometer a coesão e a eficácia operacional do Exército, além de enfraquecer o respeito mútuo entre os comandantes e suas tropas.
Impactos na moral e na liderança
O clima de tensão no curso foi descrito por alguns oficiais presentes como semelhante a um “velório”. Segundo relatos, as críticas públicas do General Paiva não foram bem vistas pela tropa, minando a moral dos participantes e gerando um ambiente de temor em vez de motivação. A nomeação de Paiva pelo presidente Lula, após um período em que o Exército esteve mais alinhado com o governo Bolsonaro, é vista como uma tentativa de reafirmar o controle sobre a instituição.
A liderança do Exército Brasileiro em cheque
Esse episódio levanta questionamentos sobre o exercício da liderança no Exército Brasileiro. Embora a disciplina seja essencial, a forma como ela é imposta pode impactar diretamente a moral das tropas. Ao optar por críticas públicas e exposição de oficiais em frente aos colegas, o General Paiva corre o risco de enfraquecer o respeito hierárquico, essencial para o funcionamento das Forças Armadas. A liderança não se trata apenas de impor regras, mas também de construir confiança mútua entre comandantes e subordinados.
A crítica aberta de oficiais que trabalharam diretamente com Bolsonaro reforça a percepção de que há uma tentativa de modificar a direção ideológica do Exército. Para os oficiais que simpatizam com o ex-presidente, a atitude do General pode ser entendida como uma ação de retaliação política, o que prejudica o ambiente de trabalho e o foco na defesa nacional.
O Exército e os novos rumos sob o governo Lula
A troca de comando dentro das Forças Armadas sempre traz ajustes e novas expectativas. Com o presidente Lula no comando do governo, e o General Paiva como novo comandante do Exército, as tensões podem se intensificar. O Exército, que esteve mais próximo do governo anterior, agora precisa se adaptar a uma nova liderança e a possíveis mudanças de direção em termos de política e alinhamento.
Essa situação revela as dificuldades que surgem quando uma instituição como o Exército, conhecida por seu caráter neutro, se vê envolvida em divisões políticas. A forma como essa crise será gerida nos próximos meses poderá impactar profundamente a coesão interna e a eficácia das operações do Exército Brasileiro no futuro.