O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que as tarifas de 50% impostas pelo governo dos Estados Unidos contra produtos brasileiros são consequência direta do que classifica como “regime brasileiro” sob a influência do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
“Se o Brasil quiser seguir o caminho da Venezuela, o tratamento dado será o mesmo”, afirmou o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. “A única pessoa que pode dar conta de acabar com essa crise chama-se Alexandre de Moraes.”
A declaração foi feita em entrevista ao Oeste sem Filtro desta quinta-feira, 10, na qual Eduardo detalhou as razões políticas que, segundo ele, levaram à adoção da medida pelo presidente Donald Trump. “Quando você vê Moraes presidindo o TSE, com uma eleição onde ‘missão dada é missão cumprida’, todo mundo viu o que aconteceu”, disse. “Isso não são valores democráticos.”
Segundo o parlamentar, a carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva menciona diretamente a perseguição a Bolsonaro, a seus aliados e apoiadores. “O Trump não está advogando pela eleição do Bolsonaro, ele está advogando por eleições limpas”, afirmou.
Perguntado sobre o que mais choca os norte-americanos nas conversas mantidas em Washington, Eduardo destacou a prisão de manifestantes do 8 de janeiro, inclusive pessoas idosas. “Quando a gente mostra as senhorinhas que estão até pensando em suicídio dentro da cadeia, tratadas como terroristas, isso impacta, isso gera revolta”, declarou.
Segundo ele, “nos EUA já existe uma bancada anti-Moraes de vários parlamentares, e não tem uma bancada pró-Moraes”. Para o deputado, o Judiciário brasileiro tem atuado fora dos limites constitucionais. “O Moraes se comporta como um mafioso, ameaçando os parlamentares.”
A resposta oficial do Congresso Nacional, divulgada depois do anúncio da tarifa norte-americana, foi recebida com cautela por Eduardo. A nota conjunta de Davi Alcolumbre e Hugo Motta defendeu diálogo e citou a Lei da Reciprocidade Econômica como instrumento de defesa da soberania nacional.
Eduardo, no entanto, considera ineficaz qualquer retaliação comercial. “O que eu estou chamando de tarifa Moraes hoje é de 50%, se o Brasil colocar uma tarifa de 10%, vai para 60%”, avalia. “Quem vocês acham que vai conseguir resistir mais tempo nessa disputa? Obviamente os Estados Unidos.”
Ele destacou que a imposição das tarifas é inédita nesse formato e comparou com sanções anteriores do governo norte-americano a outros países. “Até hoje, todos os atores internacionais que enfrentaram o Trump saíram derrotados”, recordou.
Durante a entrevista, Eduardo também mencionou ações do STF relacionadas à regulamentação das redes sociais. Ele criticou a responsabilização das plataformas por conteúdos de usuários e afirmou que isso representa um regime de censura prévia.
“Eles estão inaugurando um regime que mata a liberdade de expressão”, declarou. Segundo ele, o Supremo teria ultrapassado os limites ao julgar temas fora de sua competência. “O STF nunca fala: ‘o nosso poder vai até aqui’, sempre interfere em tudo.”
O deputado também abordou o caso do ex-assessor presidencial Filipe Martins, preso sob a acusação de ter saído do Brasil ilegalmente para os EUA. Segundo Eduardo, “já se sabe quem fez a inserção falsa do FIlipe Martins no registro migratório”.
Ele acusou diretamente o delegado federal Fábio Shor de cumplicidade e disse que o caso poderá gerar repercussões internacionais. “Aí sim haverá uma difusão vermelha da Interpol para ir atrás dessas pessoas”, afirmou.
Eduardo criticou a aproximação do governo Lula com o Irã, a recepção de navios iranianos no Brasil e o apoio ao Hamas. Para ele, isso agrava o isolamento diplomático brasileiro. “O Brasil está reforçando sua posição de anão diplomático”, afirmou. “Isso facilita a aplicação de sanções.”
Ele destacou que o ex-presidente Bolsonaro foi o primeiro chefe de Estado brasileiro a receber um premiê de Israel no Brasil, em referência à visita de Benjamin Netanyahu em 2019, e comparou sua atuação diplomática com a do atual governo. “O Bolsonaro deu uma aula do que é ser um estadista.”
Eduardo Bolsonaro comenta futuro eleitoral
Perguntado sobre os impactos políticos da crise para as eleições de 2026, Eduardo alertou para um cenário em que a principal liderança da oposição esteja impedida de concorrer. “Vamos imaginar que estamos em outubro de 2026 com o líder das pesquisas preso ou inelegível”, disse. “Isso seria uma eleição como a da Venezuela.”
Ele defendeu a contagem pública dos votos e voltou a criticar a atuação do STF e do TSE. “’Missão dada é missão cumprida’, é óbvio que isso vai ter consequência”, disse. Sobre suas próprias pretensões eleitorais, declarou: “Se eu tiver sucesso nessa empreitada, Bolsonaro será candidato a presidente e eu serei candidato a senador por São Paulo”.
Eduardo defendeu que qualquer negociação com os EUA passe por um gesto institucional claro do Brasil. “Vamos começar por uma anistia ampla, geral e irrestrita, aos moldes da de 1979”, propôs. Disse também que a Casa Branca só abrirá um canal de diálogo se houver “sinalizações concretas” de mudança de postura por parte do Judiciário brasileiro.
Ele citou nominalmente Moraes diversas vezes como figura central da crise. “Se o Moraes quiser se ajudar, ele próprio vai começar a corrigir os abusos que cometeu”, afirmou. “Senão, muito provavelmente já tem uma lei Magnitsky vindo aí, talvez até para ele e para a mulher dele.”