UK FIRES propõe uma dieta sem carne nem laticínios

Relatório financiado pelo governo britânico propõe eliminar a alimentação tradicional para atingir, segundo eles, “emissões zero” até 2050

Alcançar o “Net Zero” (zero emissões líquidas) em 2050 pode significar eliminar completamente a pecuária e os produtos lácteos no Reino Unido. É o que admite o mais recente relatório da UK FIRES, uma entidade financiada pelo governo britânico que propõe uma transformação radical do sistema agrícola e alimentar para atingir a meta de zero emissões. Na prática, isso significa uma dieta sem carne bovina, sem cordeiro e sem leite — substituída por alimentos ultraprocessados produzidos em laboratório. Tudo isso é apresentado como uma “oportunidade” para o país.

Alcançar o que foi chamado de “emissão zero absoluta” exige uma transformação completa do campo britânico, o fim da criação de ruminantes e uma reconversão forçada para alimentos sintéticos, plantas cultivadas em ambientes fechados e produção intensiva eletrificada, segundo detalha o relatório da UK FIRES.

A entidade elaborou seu plano com base nas tecnologias atualmente disponíveis. Assim, eliminar as emissões implica eliminar vacas, ovelhas e fertilizantes à base de hidrocarbonetos. A produção de metano e óxidos de nitrogênio não pode ser neutralizada com as ferramentas existentes. Por isso, o relatório propõe destinar mais da metade das terras agrícolas do país à captura de carbono, reflorestamento ou novos cultivos voltados à alimentação humana em vez de animal.

Isso também significaria reconfigurar completamente a dieta nacional. Segundo o relatório, se apenas 0,4% da demanda por carne até 2030 fosse substituída por carne cultivada em laboratório, seria necessária uma capacidade de produção 20 vezes maior do que toda a indústria farmacêutica britânica atual. Ainda assim, o crescimento das proteínas alternativas — fermentadas, vegetais ou cultivadas — é encarado como uma oportunidade. Argumenta-se que as combinações “híbridas” entre ingredientes vegetais e gorduras animais cultivadas são uma linha estratégica para desenvolver “texturas e sabores semelhantes aos da carne”.

Além disso, toda a indústria alimentícia teria que ser eletrificada. Todos os processos — da cocção à conservação — dependeriam de eletricidade no lugar de combustíveis fósseis. O relatório afirma que os custos de produção aumentariam apenas 0,4% até 2050. Em compensação, são prometidas melhorias de eficiência, automação e novas oportunidades de negócio para quem aderir a essa revolução.

Mas a UK FIRES também admite que não existem soluções viáveis para algumas áreas-chave, como a fertilização de cultivos. Embora mencione tecnologias de precisão e o uso de inibidores, reconhece que não será possível eliminar completamente esses insumos. Ainda assim, omite qualquer análise sobre as consequências da restrição desses elementos na produção global de alimentos.

A reestruturação proposta não seria apenas agrícola, mas também social. O relatório contempla uma transição para novos modelos de negócios baseados em “serviços ambientais”, com o campo convertido em espaço de absorção de carbono, áreas florestais ou produção energética. Agricultores tradicionais teriam que se reinventar como prestadores de “bens públicos” para poderem sobreviver.

A UK FIRES, assim, apresenta uma espécie de planejamento centralizado do sistema alimentar — do campo ao prato. Embora o embale como uma “oportunidade”, as consequências podem ser devastadoras: menos comida real, mais dependência tecnológica e uma população alimentada por produtos de laboratório cuja composição — fermentos, culturas celulares, ingredientes modificados — está longe de ser transparente.

Sob a bandeira do Net Zero, o que se propõe é um colapso planejado do modelo agrícola tradicional, substituído por um ecossistema industrializado, eletrificado e artificial. E, como já ocorre com outras políticas climáticas, serão as classes médias e trabalhadoras que mais sofrerão as consequências — enquanto as elites seguirão desfrutando de carne de verdade.

O futuro desenhado não inclui o pecuarista, o agricultor nem o leite fresco. Inclui reatores celulares, proteínas de micélio e métricas de carbono.

Crédito La Gaceta

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