De acordo com o presidente ucraniano, o acordo sobre minerais está pronto para ser assinado
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou neste domingo, 2, que o acordo sobre minerais está pronto para ser assinado, apesar do encontro conturbado com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na semana passada.
Zelensky havia ido à Casa Branca com o objetivo de firmar um acordo que permitiria aos EUA explorarem terras raras da Ucrânia, mas uma discussão entre os dois presidentes resultou no cancelamento do acordo, de acordo com informações de Washington.
Dois dias depois, o presidente ucraniano falou que ainda está aberto a um “diálogo construtivo” com os EUA, mas ressaltou: “Só quero que a posição ucraniana seja ouvida”. “Se formos construtivos, o resultado positivo virá”, afirmou em uma entrevista transmitida pela rede britânica BBC.
London. A meaningful and warm meeting with Prime Minister @Keir_Starmer.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) March 1, 2025
During our talks, we discussed the challenges facing Ukraine and all of Europe, coordination with partners, concrete steps to strengthen Ukraine’s position, and ending the war with a just peace, along with… pic.twitter.com/IAwcPgbhYW
O presidente da Ucrânia diz ter viajado por “12 horas de trem e depois mais 11 horas de avião” para atender ao convite do presidente dos EUA. Segundo ele, os Estados Unidos são um dos principais parceiros da Ucrânia. “Para mim, estar na Casa Branca quando sou convidado é um gesto de respeito.”
Zelensky enfatizou que nunca teve a intenção de “insultar” ninguém e que sempre procurou promover negociações bipartidárias com todas as forças políticas dos EUA. Ele, no entanto, recusou-se a pedir desculpa a Trump depois do confronto de sexta-feira, 28, no Salão Oval. Ele afirmou que a discussão “não trouxe nada de positivo” para a paz na Ucrânia.
Zelensky comenta bate-boca com Trump
Em entrevista a jornalistas depois de sua visita ao Reino Unido, Zelensky disse que negociações delicadas, quando expostas publicamente, podem ser exploradas por inimigos. Mesmo assim, expressou esperança de que o episódio com Trump seja superado.
O líder ucraniano evitou comentar se se sentiu emboscado ao ser repreendido por Trump e pelo vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, mas garantiu que estaria disposto a conversar novamente com Trump caso fosse “convidado para resolver os problemas reais”.
O encontro da última sexta-feira, 28, foi marcado por tensões e terminou sem avanços. Durante a reunião, Zelensky foi acusado de ingratidão pelo apoio militar dos EUA e informado de que a Ucrânia não conseguiria vencer a guerra.
Desde então, não houve novas comunicações diretas entre o presidente ucraniano e a Presidência dos EUA, segundo Zelensky. Ele também evitou comentar o que aconteceu depois de as câmeras serem desligadas no Salão Oval, antes de sua saída abrupta da Casa Branca, sem almoço ou assinatura do acordo de minerais.
Fontes revelam que a equipe de Trump teria solicitado que Zelensky se retirasse, mas o presidente ucraniano preferiu minimizar o episódio. Ele disse que seria melhor “deixar isso para a história”.
Apesar das tensões, Zelensky se mostrou otimista em relação a uma iniciativa de paz liderada pelo Reino Unido e pela França, discutida em Londres no domingo. Ele acredita que essa iniciativa trará resultados “nas próximas semanas” e já conta com o apoio de países como Turquia, nações bálticas e nórdicas.
Durante a conferência em Londres, também foram debatidas “garantias de segurança para a Ucrânia”, e Zelensky descreveu as discussões como “um começo muito positivo”. O presidente antecipou que vários países devem se posicionar oficialmente sobre o tema em breve.
I had a productive meeting with the President of the Council of Ministers of Italy @GiorgiaMeloni to develop a joint action plan for ending the war with a just and lasting peace.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) March 2, 2025
No one other than Putin is interested in the continuation and quick return of the war. Therefore, it… pic.twitter.com/3xCF7qTiCv
trégua temporária, o presidente ucraniano evitou dar uma resposta direta. Ele se limitou a dizer, em inglês, que está “ciente de tudo”.
Zelensky também reiterou que a Rússia é a parte agressora no conflito e alertou contra qualquer tentativa de reescrever a narrativa da guerra para insinuar uma falsa equivalência entre os dois países. Ele escolheu falar por meio de um intérprete e recusou-se a se expressar em inglês.
O presidente ucraniano também rejeitou a ideia de assinar um acordo de paz que envolvesse a entrega dos territórios ocupados pela Rússia e disse que isso representaria uma “separação forçada de nossas terras” e seria uma forma de coerção, o que poderia abrir margem para mais hostilidades no futuro.
“Acho que esses países… que nos apoiam, ou talvez queiram ser intermediários nesta guerra, [que] entendem que se a guerra terminar de forma injusta, então será uma questão de tempo até que as pessoas tentem obter essa justiça”, disse Zelensky na entrevista. “Não queremos nada que não nos pertença”, enfatizou.
Em reportagem do jornal norte-americano The Guardian, Zelensky também respondeu questões sobre as falas do senador Lindsey Graham, que sugeriu que o ucraniano deveria considerar renunciar depois do desentendimento com Trump. A resposta do presidente foi irônica. Ele disse que poderia oferecer a Graham a cidadania ucraniana e que, somente então, suas sugestões “ganhariam peso”.
Zelensky reforçou que, até lá, o presidente da Ucrânia vai continuar a ser escolhido exclusivamente pelo povo ucraniano. Em outro momento, ele declarou que estaria disposto a trocar sua Presidência pela adesão da Ucrânia à Otan, por considerar que isso seria a melhor garantia de segurança para o país.
The summit in London was dedicated to Ukraine and our shared European future.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) March 2, 2025
We feel strong support for Ukraine, for our people – both soldiers and civilians, and our independence. Together, we are working in Europe to establish a solid foundation for cooperation with the… pic.twitter.com/6CiBZ1HhOA
Visita ao Reino Unido incluiu reuniões com líderes europeus
Em sua passagem pelo Reino Unido, Zelensky se reuniu com o rei Charles III, na casa de campo real Sandringham, em Norfolk, Inglaterra. O encontro aconteceu depois da cúpula com outros líderes europeus, que discutiram a guerra na Ucrânia, o fortalecimento das defesas do país e os esforços para um acordo de paz.
De acordo com informações da Sky News atribuídas ao Palácio de Buckingham, a reunião durou pouco menos de uma hora, e Zelensky viajou de helicóptero de Londres para Sandringham, onde o rei e a rainha passam a maior parte do tempo.
A cúpula deste domingo foi organizada pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Outros 19 líderes também estiveram presentes, em sua maioria europeus, mas também o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte.
I am grateful to His Majesty King Charles III for the audience.
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) March 2, 2025
🇺🇦🇬🇧 pic.twitter.com/qHPhiXv8fu
Além da reunião coletiva, Zelensky teve encontros individuais com vários líderes europeus, como o rei Charles e a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni. Neste segundo caso, o presidente ucraniano disse em sua conta no X que a reunião foi produtiva, com foco no desenvolvimento conjunto de um plano de ação para acabar com a guerra.
Ele escreveu que “ninguém além de Putin está interessado na continuação e no rápido retorno da guerra” e reforçou a importância de manter a unidade em torno da Ucrânia e fortalecer a posição do país em cooperação com seus aliados. Ele agradeceu à Itália pelo apoio contínuo e pela parceria na busca pela paz.
Zelensky não fez declarações públicas sobre o encontro com o rei Charles. O presidente ucraniano chegou a Londres no último sábado, 1º, quando se encontrou com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, antes de participar das reuniões posteriores ao fracasso das negociações com Trump, na sexta-feira.