Foto - Reprodução/NPR
Uri Berliner estava suspenso desde 12 de abril por publicar texto sobre a guinada “woke” da rádio pública.
Uri Berliner, editor sênior da NPR (Rádio Pública Nacional na sigla em inglês), dos Estados Unidos, anunciou que se demitiu na 4ª feira (17.abr.2024). Em publicação na sua conta no X (ex-Twitter), o jornalista divulgou sua carta de demissão e disse que não apoia os “pedidos para desfinanciar a NPR”.
“Respeito a integridade dos meus colegas e desejo que a NPR prospere e faça um jornalismo importante. Mas não posso trabalhar em uma redação onde sou menosprezado por uma nova CEO cujas opiniões divergentes confirmam os problemas na NPR que menciono no meu artigo para a Free Press”, disse, referindo-se a Katherine Maher, que já criticou o poder da 1ª Emenda da Constituição dos EUA.
Berliner estava suspenso de suas funções desde 12 de abril depois de escrever o artigo “Estou na NPR há 25 anos. Eis como perdemos a confiança da América” no site de notícias Free Press
O texto, publicado em 9 de abril, afirma que a NPR perdeu a confiança do público ao favorecer as ideias de esquerda. Nele, o jornalista premiado e muito respeitado no setor faz um extenso relato sobre como a emissora de rádio adotou uma política de pautas identitárias e do universo woke depois que o republicano Donald Trump venceu as eleições presidenciais de 2016.
Segundo Berliner, a partir de 2023, a rádio pública norte-americana, que também produz conteúdo on-line, perdeu ouvintes e leitores conservadores, moderados e liberais tradicionais.
“Um espírito aberto e tolerante não existe mais dentro da NPR, e agora, previsivelmente, não temos uma audiência que reflita a América. Isso não seria um problema para um veículo de notícias abertamente polêmico que serve a uma audiência de nicho. Mas, para a NPR, que se propõe a considerar todas as coisas, é devastador tanto para o seu jornalismo quanto para o seu modelo de negócios”, afirmou.
Produz conteúdo que centenas de emissoras locais norte-americanas compartilham.
Com sede em Washington D.C., a NPR marca presença em diversas cidades dos EUA e, até recentemente, recebia admiração pelo seu tom equilibrado.
CULTURA WOKE
Críticos do movimento pelo uso da linguagem neutra nos Estados Unidos relacionam a prática com a cultura woke. O significado literal de “woke” é “acordei”. O uso do termo pela comunidade negra dos EUA remete a “estar alerta para a injustiça racial”.
Na última década, o termo também ganhou o sentido de “consciência sobre temas sociais e políticos, especialmente racismo”, como define o dicionário Oxford. Pessoas passaram a se “autodefinir” como woke para se identificar como parte de uma “cultura liberal”.
Por outro lado, pessoas que desaprovam integrantes dessa cultura e os consideram “pessoas que falam demais sobre esses temas [sociais], de uma forma que não muda nada” também usam a palavra, segundo o dicionário Oxford.
A desaprovação mira em métodos de coerção usados para desestimular o uso de expressões consideradas homofóbicas, misóginas ou racistas. Um dos pontos criticados é o “cancelamento”, um tipo de boicote a quem faz uso desse tipo de termos.
De um lado, segundo defensores da abordagem woke dizem que esse tipo de protesto não violento dá visibilidade a grupos historicamente oprimidos e corrige comportamentos de setores privilegiados que nunca haviam refletido sobre o assunto. Do outro, há a acusação de que sejam “policiais da linguagem”.