Bretas critica STF e aponta censura no país após punição do CNJ

Juiz afastado afirma que há um clima de hipocrisia no STF ao centralizar investigações semelhante ao que é acusado de ter feito. Leia na Gazeta do Povo.

O juiz federal Marcelo Bretas, afastado compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por condutas consideradas irregulares à frente da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, disparou contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e à punição que recebeu.

Segundo ele, há um clima de “hipocrisia” na centralização de investigações no país, comparando-as com os motivos que levaram à sua punição.

“Hoje o que está acontecendo no Brasil, com o alargamento de algumas investigações que são feitas no Supremo Tribunal Federal, eu acho até engraçado esse tipo de avaliação de que eu fazia isso lá naquele tempo. Tudo parece um discurso muito hipócrita”, afirmou Bretas em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta quinta (26).

A decisão do CNJ de aposentá-lo compulsoriamente teve como base uma suposta manipulação de depoimentos e a concentração indevida de processos na 7ª Vara Federal Criminal do Rio. Para o juiz, no entanto, o entendimento do Conselho foi político e contraditório.

“Quando se interessa, ok, pode ser. Quando não se interessa, vamos dizer que isso é uma irregularidade. Não, isso nunca aconteceu”, pontuou.

Afastado do cargo, Bretas está inelegível por oito anos, conforme determina a Lei da Ficha Limpa. Ele nega qualquer plano de seguir carreira política e disse que não se incomoda com o silêncio da maioria dos políticos após sua punição.

“Não sou político. Eu não dependo de apoio político. Eu sou técnico”, declarou. Apenas o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-colega de magistratura na Lava Jato, manifestou apoio publicamente. Sobre a possibilidade de disputar eleições, Bretas foi direto e afirmou que “nunca tive e não tenho [interesse]. Recebo muito pedido. Essa vaidade eu nunca tive”.

Censura no país

O ex-juiz também fez críticas ao que chamou de “clima de censura” no país, responsabilizando os inquéritos em curso no STF por um ambiente de autocensura e temor generalizado.

“Não há hoje no país uma liberdade de expressão. As pessoas estão com medo de se manifestar, com medo de serem incluídas em um inquérito ou alguma coisa assim”, disse. Segundo ele, há espaço apenas para opiniões alinhadas ao discurso dominante. “A favor, você sempre encontra meia dúzia de advogados nas redes de TV. A pessoa parece que está lendo um livro. Não acrescenta absolutamente nada e não é crível”, disparou.

Ao comentar os atos de 8 de janeiro de 2023 contra as sedes dos Três Poderes, Bretas classificou o episódio como “baderna” motivada por frustração, em que as pessoas “imaginaram que ia aparecer o Superman, o Hulk, ia mudar toda a história”.

“Como isso não aconteceu, a transição do governo aconteceu, as pessoas saíram para o quebra-quebra”, disse.

Embora tenha condenado os atos como depredação do patrimônio público, Bretas preferiu não envolver o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no planejamento – o político é apontado pelas investigações como o suposto líder do plano de tentativa de golpe de Estado.

“Prefiro, por hora, exercer a minha liberdade de opinião e não comentar o que eu acho que está acontecendo nesse processo de golpe”, completou.

Crédito Gazeta do Povo

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