Foto – Tânia Rêgo
Vice-presidente do partido, Washington Quaquá tem discutido cenário no Rio e em Brasília; prefeito carioca é favorito para concorrer ao governo fluminense
As siglas estão entre as maiores do Brasil e controlam três ministérios cada, mas têm hesitado em sinalizar apoio a um quarto mandato de Lula. Ambas estão rachadas entre alas do Sudeste e Sul, mais à direita, e setores lulistas no Nordeste e Norte. Para contornar as divergências, o MDB tem sinalizado interesse em ocupar a vice do presidente com os atuais ministros Renan Filho (Transportes) e Simone Tebet (Planejamento) ou o governador do Pará, Helder Barbalho.
Para Quaquá, que também é prefeito de Maricá (RJ), a convocação do prefeito carioca mudaria esse quadro.
“A gente isolaria o bolsonarismo no Rio, que é um estado central para a direita. Se a gente enfraquece o grupo de Jair Bolsonaro aqui, será uma vitória. Paes é um nome querido no Rio, ajuda, jovem, agrega à chapa. Tem que fazer uma operação no PSD com o Kassab e de quebra traria o MDB”, declarou o vice-presidente do PT à equipe do blog.
A ideia de Quaquá de que essa chapa teria o efeito colateral de trazer o MDB tem a ver com o fato de que, se Paes for vice de Lula e desistir da candidatura ao governo do Rio – que ele não assume, mas todos no seu entorno dão como certa – será preciso escolher outro candidato do mesmo campo político.
Como mostrou a pesquisa Quaest divulgada na última quinta-feira (27), o prefeito do PSD é líder disparado na disputa a quase dois anos das eleições. Embora não admita abertamente a candidatura, que forçaria sua renúncia ao cargo em março de 2026, Paes tem trabalhado intensamente para se viabilizar no interior do estado.
O atual governador, Cláudio Castro (PL), não pode disputar um terceiro mandato e já anunciou que concorrerá a uma das duas vagas do Senado no próximo ano, o que abrirá caminho para o vice, Thiago Pampolha (MDB), assumir o governo.
Sem Paes na disputa e com a máquina na mão, Pampolha se tornaria o candidato óbvio ao governo e, no cenário traçado por Quaquá, receberia o apoio de Lula e do PT.
“Tenho conversado com todo mundo aqui no estado e em Brasília. Depois do Lula [caso reeleito], não há ninguém no mercado eleitoral para 2030. Esse alguém pode ser o Eduardo. Quem for vice do Lula terá uma importância enorme”, aposta o prefeito de Maricá.
Quaquá, porém, desconversa quando se pergunta o que o próprio Paes acha dessa solução. Nós procuramos o prefeito para consultá-lo sobre sua disposição de virar candidato a vice na chapa de Lula, mas ele não respondeu até o fechamento da reportagem.
O vice do PT diz que tem dialogado com lideranças da gestão Castro sobre a proposta e que tem encontrado abertura por parte de alguns. Ele, inclusive, não elimina a possibilidade de que o atual governador concorra ao Senado na chapa de Pampolha com apoio de Lula, mas fora do PL.
Nesse caso, o PT indicaria o segundo candidato a senador na chapa. Independentemente do quadro, o partido já sinalizou que o ex-prefeito de Maricá Fabiano Horta e a ex-governadora Benedita da Silva são seus favoritos.
O MDB governou o Rio entre 2003 e 2018 nas gestões de Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, mas encolheu no estado desde a operação Lava-Jato e viu suas principais lideranças irem parar atrás das grades. Pampolha, de 37 anos, tem sido prestigiado por lideranças nacionais da legenda.
O vice-governador, por sinal, mantém boas relações com Paes, a quem apoiou na eleição de 2024 contrariando a posição de Castro, que trabalhou pelo bolsonarista Alexandre Ramagem (PL). Pela importância histórica do estado para o MDB, Quaquá aposta que a negociação asseguraria o apoio formal do partido a Lula.
Pampolha hoje representa um obstáculo para os planos de Castro. Isso porque o o governador já declarou sua preferência pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), como seu sucessor. Mas Bacellar tem sinalizado que só toparia a empreitada se assumir o governo já no ano que vem, o que forçaria a renúncia de Pampolha. Até agora, ele tem se mostrado irredutível no interesse de assumir as rédeas do Guanabara.
Como o dirigente da Alerj já conta com a simpatia da família Bolsonaro, o apoio de Lula e do PT seria um diferencial para o vice-governador.
Para dar certo, o plano de Quaquá dependeria de uma série de condicionantes, como a disposição de Gilberto Kassab em compor a chapa de Lula – que, no momento, parece remota. A última vez que o PSD compôs com o PT foi em 2014, na reeleição de Dilma Rousseff, e o partido desembarcou dois anos depois do governo para apoiar o impeachment da petista.
Além disso, Kassab é o homem forte do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, sempre cotado para disputar o espólio de Bolsonaro caso a popularidade de Lula continue em declínio.
Já o MDB, que lançou Tebet em 2018, pode arriscar a neutralidade no primeiro turno ciente de que sua bancada seguirá representando um importante papel na base do próximo presidente, seja ele Lula ou outro candidato.