Procuradoria-Geral da República acusou a cabeleireira paulista um ano depois de a mulher ter ido para a cadeia por causa do protesto
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou, nesta sexta-feira, 2, uma denúncia contra a cabeleireira Débora dos Santos, de 38 anos, que escreveu com batom “perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao STF, durante o 8 de janeiro.
A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 7 de julho. Débora, contudo, está presa desde 17 de março do ano passado.
“O monumento, de autoria do escultor mineiro Alfredo Ceschiatti e avaliado entre R$ 3 milhões, foi vandalizado com a frase ‘perdeu, mané’, em material de coloração vermelha”, diz Moraes na decisão. “No ponto, reportagem da Folha de S.Paulo registrou o
momento da pratica o ato de vandalismo do patrimônio público.”
Conforme o entendimento de Moraes, que acolheu a ação da PGR, Débora cometeu os crimes de associação criminosa armada, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União.
Quem é Débora dos Santos
Casada com o pintor Nilton Cesar, Débora é mãe de duas crianças, uma com 6 anos e outra com 9 anos.
A mulher também é religiosa. Antes de ir para a cadeia, Débora frequentava a Igreja Adventista do 7º Dia.
Há algumas semanas, a Justiça transferiu Débora do Centro de Ressocialização Feminina de Rio Claro para a Penitenciária Feminina Santa Maria Eufrásia Pelletier, em Tremembé, que fica a 225 quilômetros de onde mora a sua família, sem o conhecimento do advogado.
Os filhos de Débora gravaram um vídeo no qual fizeram um apelo à Justiça pela soltura da mãe. Diversos parlamentares, como os deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Bia Kicis (PL-DF), compartilharam o conteúdo. “Todos vão pagar por isso”, disse Gayer. “Isso é cruel e desumano”, constatou Bia, ao mencionar o projeto de lei da anistia.
Defesa da cabeleireira se manifesta
O advogado Hélio Junior, que defende Débora, enviou a seguinte nota à Revista Oeste:
“Ontem, Moraes determinou a soltura de Grazielly da Silva Barbosa, falsa biomédica, acusada de matar uma modelo em Goiás (GO), com a fundamentação de que ela é genitora de filhos menores e responsável pela criação das crianças.
Hoje, esse mesmo ministro sequer respondeu ao pedido de prisão domiciliar de Débora, que também tem filhos menores e é responsável pela criação das crianças, e apenas decidiu aceitar o recebimento da denúncia.
É impressionante como os patriotas, na visão de alguns ministros, são considerados mais ameaçadores para a sociedade do que pessoas acusadas de crimes hediondos.
Infelizmente, para muitos, o Brasil virou sinônimo de perseguição política, e ouvimos frequentemente que já estamos vivendo uma ditadura do judiciário. A pior ditadura é a do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.