Lula amplia pressão para tentar manter apoio de ministros do Centrão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começa nas próximas semanas uma série de reuniões com ministros e lideranças de partidos do Centrão no intuito de desenhar a reforma ministerial discutida no Palácio do Planalto. Os alvos desses encontros serão os integrantes de partidos como PSD, PP, MDB, Republicanos e União Brasil e tem como pano de fundo fortalecer os planos do petista para a eleição de 2026.

Dentro do PT, Lula é visto como o principal nome para a disputa presidencial do ano que vem, mas a avaliação é de que o petista só vai concorrer novamente caso tenha um cenário político favorável. Para isso, uma das estratégias do petista é justamente tentar amarrar o apoio de diversos partidos do Centrão, como forma de neutralizar eventuais candidaturas nessas siglas.

“Temos vários partidos políticos [conosco], quero que os partidos continuem juntos. Mas estamos chegando no processo eleitoral e a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não. Essa é uma tarefa também de vocês em 2025. É uma tarefa grande”, disse Lula durante a reunião ministerial desta segunda-feira (20). 

A fala do presidente, na avaliação de lideranças do governo, foi vista como um recado de que os ministros de partidos do Centrão precisam trabalhar junto às suas bancadas de deputados e senadores. A expectativa é de que partidos mais alinhados ao Planalto nas votações do Congresso sejam contemplados com mais espaços na Esplanada dos Ministérios em detrimento daqueles menos alinhados. 

“E é isso que eu quero pedir para vocês. Até agora eu sou agradecido à relação de confiança, ao trabalho que vocês fizeram, mas eu quero que vocês saibam que daqui para frente vai ter muito mais trabalho”, completou Lula.

PSD pleiteia mais espaço e União Brasil pode perder ministério 

No desenho atual, partidos como PSD, MDB e o União Brasil contam com três ministérios cada. Já legendas como o PP e o Republicanos foram contempladas com uma pasta cada. Com as mudanças no comando nas presidências da Câmara e do Senado, a expectativa é de que esse rearranjo seja revisto por Lula.

Comandado nacionalmente por Gilberto Kassab, o PSD conta hoje com os ministérios de Minas e Energia, Agricultura e o da Pesca. Como forma de compensar a saída de Rodrigo Pacheco (MG) da presidência do Senado, líderes da sigla no Congresso têm cobrado mais espaço na Esplanada e existe ainda uma demanda de compensação pela desistência de Antônio Brito (BA), rifado pelo Planalto, à presidência da Câmara.

A bancada da Câmara, por exemplo, foi responsável pela indicação do deputado André de Paula para o ministério da Pesca. Líderes do PSD, no entanto, admitem que a pasta é inexpressiva e o partido costuma entregar quase a totalidade dos 44 votos da bancada em votações de interesse do governo. 

Já o União Brasil foi responsável diretamente por indicar dois ministros: Turismo, com Celso Sabino, e Juscelino Filho, do Turismo. O senador Davi Alcolumbre (AP), principal candidato à presidência do Senado, é o padrinho político da indicação de Waldez Goés na pasta da Integração e do Desenvolvimento Regional ainda no começo do mandato de Lula e a expectativa era de que ele se filiasse ao União Brasil, o que não aconteceu até o momento.  

Parlamentares do partido ouvidos pela reportagem avaliam que não há perspectiva de mudanças no nome indicado por Alcolumbre, mas a avaliação entre os assessores do Planalto é de que Lula possa diminuir o espaço do União Brasil. Um dos pontos apontados pelos governistas é de que a bancada do partido na Câmara, que conta com 59 deputados, não costuma entregar a maioria dos votos ao governo. 

No final do ano passado, quando o Planalto tentava aprovar o pacote de corte de gastos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na votação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), 36 deputados do União votaram contra na votação de primeiro turno. Já no segundo, foram 22. 

Além da baixa adesão da bancada nas votações de interesse do Executivo na Câmara, os governistas mais próximos de Lula apontam a pré-candidatura do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, à presidência como outra divergência com o União Brasil. Buscando se posicionar como alternativa no campo da direita, Caiado costuma fazer oposição em diversas pautas do governo petista e, recentemente, criticou o decreto de Lula que defende a restrição do uso de armas de fogos por policiais.

“Realmente pode deixar claro que, com portarias como essa, a conivência e leniência do governo com a criminalidade está mais do que clara. Essa é a grande verdade. Nós precisamos é de medidas enérgicas capazes de poder fazer valer ali a presença do Estado e não a submissão do Estado aos faccionados e ao crime no Brasil”, disse Caiado. 

A pré-candidatura do governador de Goiás conta com o apoio da cúpula do União Brasil e deve ser oficializada ainda neste ano. Ainda no ano passado, o presidente da sigla, Antônio Rueda, já havia sinalizado que pretendia reavaliar a relação com o governo Lula.

Partido de Lira e Republicanos são cortejados por Lula 

A redistribuição de espaços no primeiro escalão do governo Lula também mira a troca de comando na Câmara dos Deputados. Apesar da saída de Arthur Lira da presidência, o partido dele, o PP, pode ganhar mais espaço na Esplanada dos Ministérios.  

Atualmente, o PP comanda o Ministério do Esporte com André Fufuca e Lira foi responsável pela indicação do atual presidente da Caixa Econômica, Carlos Vieira. Uma das alternativas discutidas dentro do Planalto seria a de trazer o atual presidente da Câmara para uma pasta do governo e, em troca, o PP adotaria o discurso de neutralidade no pleito de 2026.

O presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), afirma que a “grande maioria do partido” continua sendo oposição ao governo Lula. Além disso, o parlamentar se diz contra a entrada de Lira na Esplanada dos Ministérios. 

“O Arthur sabe que eu sou contra [ele ir para o ministério]. Não é fazendo uma reforminha que esse governo vai mudar. Esse governo tem de virar a chave, em vez de só olhar para trás”, disparou Ciro Nogueira. Ele negou que tenha ocorrido qualquer conversa do senador com Lula durante o mandato.

Além do PP, outra sigla cortejada por Lula passou a ser o Republicanos, que atualmente comanda a pasta de Portos e Aeroportos com Silvio Costa Filho. A avaliação entre os petistas é de que, com a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara, a ampliação de espaço para a sigla poderia garantir a estabilidade para as pautas de Lula nos próximos dois anos na Casa. 

Além do apoio no Congresso, os petistas ouvidos pela reportagem acreditam que a reforma ministerial precisa ser desenhada por Lula com o objetivo de neutralizar o apoio desses partidos a candidatos da direita em 2026. Na última eleição, por exemplo, o PP e o Republicanos apoiaram a candidatura à reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

A reforma ministerial vem sendo discutida no Planalto desde o final do ano passado e, até o momento, Lula mexeu apenas na Secretaria de Comunicação. A expectativa é de que a dança das cadeiras só seja concluída justamente após a eleições das presidências da Câmara e do Senado, marcadas para 1º de fevereiro. 

“O presidente não tomou qualquer decisão sobre isso [reforma ministerial]. Ele continua refletindo e pode trocar ministro, ministra, como qualquer outra função a qualquer momento”, disse o ministro da Casa Civil, Rui Costa, após a reunião organizada por Lula com os atuais comandantes das pastas.

Source link

compartilhe
Facebook
Twitter
LinkedIn
Reddit

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *